O Legado de Um Humilde Franciscano

Os dois primeiros trimestres do ano de 2012, trouxeram para o universo católico brasileiro, duas importantes notícias: uma boa e a outra má.

Começando pela ruim: dados oficiais do Censo 2010, divulgados pelo IBGE, no final do mês de junho, mostraram que na última década a Igreja Católica perdeu, no Brasil, 1,7 milhão de seguidores. Uma perda sem precedentes na História. Por outro lado e numa espécie de contraponto antecipado, a revista Veja, na edição de 28 de março trazia a boa nova sobre o renascimento das vocações religiosas, após longo período de declínio. Os números apresentados mostravam que entre 1970 e 1980 o Brasil havia perdido 400 sacerdotes, mas que desde a década passada o número começou a subir em ritmo próximo de 5% ao ano e hoje existem 22.000 sacerdotes no país.

Com relação à diminuição de fiéis; dirigentes eclesiásticos, bem como estudiosos leigos se debruçam sobre os números, para analisá-los com o cuidado e calma que caracterizam a experiência bimilenar do catolicismo. Já no que diz respeito ao renascer das vocações, cabe à comunidade católica, tanto no âmbito coletivo como individual, implementar a colaboração participando cada vez mais ativa e efetivamente desse processo. Como?

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No caso da pequena comunidade virtual Amigos De Frei Cosme, a inspiração brotou do legado deixado por seu antigo mentor espiritual Frei Cosme Ballmes, OFM que em 1929, ainda jovem seminarista alemão com o nome de Alois Ballmes, desembarcou no Brasil disposto a tornar-se missionário franciscano. Ordenou-se sacerdote em 1937, trabalhando em várias paróquias do sul e do sudeste brasileiro por alguns anos. Foi na Baixada Santista, porém que, por mais de 30 anos, desenvolveu extraordinário apostolado, principalmente nos morros e periferias abandonadas, no entorno do atual Santuário de Santo Antônio do Valongo. Os restos mortais de Frei Cosme, falecido em 1978, descansam no altar lateral de São Benedito, na multicentenária igreja do Valongo, onde continuam recebendo a veneração de fiéis amigos e novos devotos.

Frei Cosme desenvolveu fecundo trabalho em numerosas frentes, destacando-se aqui suas ações, junto às crianças, coroinhas e vocações sacerdotais.

As crianças ele atraía, com mansidão e carinho, distribuindo santinhos nas escolas e morros. Os pequeninos iam aos bandos, para divertidas matinês de cinema na igreja, seguidas do obrigatório catecismo. A Primeira Eucaristia tinha turmas de até 100 participantes. Já os coroinhas que chegaram a várias dezenas, ao mesmo tempo, eram treinados pelo frei alemão, com disciplina e rigor de professor exigente. Em compensação, sempre que percebia ser necessário, lhes servia pessoalmente um cafezinho matinal, antes das missas. No caso das vocações, missão prioritária à qual se dedicava com especial entusiasmo, foram muitas as dezenas de jovens por ele encaminhados aos seminários franciscanos.

Como ainda ocorre hoje, a maioria de rapazes que ia para os seminários, era originária de famílias pobres. Da mesma forma a dificuldade de compatibilizar o número de candidatos à escassez das disponibilidades materiais. Ocorre que a obra desenvolvida pelo franciscano estava moldada por alguns diferenciais de rara confluência. O primeiro e mais determinante era ele próprio. Humilde, carismático; transmitia em exemplos de vida, as virtudes que pregava. Além disso, na primeira linha de trabalho ao seu redor contava com 12 operosos membros da Obra das Vocações Sacerdotais. Na parte financeira do processo sustentava-se em duas frentes poderosas: as ajudas enviadas pelos prósperos compatriotas católicos alemães e o suporte da generosa Ordem Terceira do Valongo, que todos os anos lhe encaminhava fartas doações para a Obra das Vocações, além de manter a “Bolsa de Estudos Santa Clara de Assis”.

Para alguns críticos mais exigentes que, por vezes, tentavam mostrar o perigo de desperdícios, Frei Cosme externava: “Mesmo vendo com tristeza que o número de sacerdotes não aumenta, não podemos desanimar. O trabalho em prol das vocações nunca é perdido. Teremos méritos para a eternidade, mesmo que não sejamos coroados de êxito nesses esforços. É preciso perseverar no trabalho, nada de desalento. Os que deixam o seminário sem alcançar a realização do sublime ideal do sacerdócio também podem ser bons cidadãos, católicos fervorosos. Devido à falta de sacerdotes poderão ser necessários como diáconos, para auxiliar na igreja. Portanto, não esmorecer, quando isso acontecer.

Muitos dos atuais Amigos que gravitam em torno da memória de Frei Cosme seguem discutindo como, mas firmes em sua decisão de ajudar. Afinal, são inúmeras as formas existentes de viver a fé, levando adiante o anúncio de Jesus. O plano que vem ganhando mais consistência é sobre a atenção que crianças, adolescentes e jovens de hoje precisam, por estarem expostos demais às drogas, abusos de todo o tipo, abandono, bem como da falta de oportunidades nas perspectivas futuras.

Nos tempos que estão chegando se vislumbram alguns momentos únicos de evangelização, em especial para a juventude brasileira: já no próximo ano acontecerá a Jornada Mundial da Juventude – JMJ; em 2014 a Copa do Mundo de Futebol e, logo mais adiante a Olimpíada de 2016.

Como fazer acontecer?

Formatos operacionais a explorar; potencialmente eficazes, de ampla abrangência sociocultural e religiosa, poderiam surgir com a criação de Bolsas de Estudos, Prêmios, Apadrinhamentos ou Mecenatos. Como moldura, seriam usadas as novas tecnologias de comunicação, internet e redes sociais que, certamente, ajudariam a reinventar formas apropriadas para despertar emoções, enternecendo os fiéis.

Tudo isso, naturalmente, sempre em harmonia com a Diocese, Paróquia ou Pastoral Vocacional e, acima de tudo, em rigorosa conformidade com as pregações de Frei Cosme, somando méritos para a eternidade.

 

Por:
German Aguirre
Jornalista, Amigo de Frei Cosme
www.AmigosDeFreiCosme.com.br

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Página 6 Informativo 75 Outubro 2012

Artigo publicado originalmente na página 6 do Informativo de Outubro 2012 da Basílica Menor de Santo Antônio do Embaré (Santos/SP).

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