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A Amiga Enfermeira

Publicado por Amigos de Frei Cosme Em 26 de agosto de 2013 @ 17:56 Em Artigos,Destaques | Nenhum Comentário

I – Introdução

O texto a seguir combina parte do depoimento de Darlinda Ferrari Venâncio (Amiga n.º 20) com informações coletadas ou complementadas em diversas fontes, tais como: Livro das Crônicas do Convento de Santo Antônio do Valongo; Atas de Reuniões da: Legião de Maria, Filhas de Maria e Congregação Mariana.

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II – A Enfermeira

Ultrapassando os 18 anos de idade, a jovem Darlinda, em meio aos múltiplos sonhos dessa fase existencial, principiava a definir, com mais autonomia, algumas prioridades de vida.

Na parte espiritual, procurava dar bons exemplos como Filha de Maria e Catequista da garotada que frequentava as aulas de catecismo, coordenadas por Frei Cosme. Já no dia a dia das necessidades mais materiais, preparava-se para dar os primeiros passos, na carreira à qual se dedicaria em tempo integral. Nela começou em 1952, ao entrar para a Santa Casa de Santos, na função de Atendente de Enfermagem.

Anos à frente, como resultado do afinco e amor ao trabalho, o mesmo Hospital lhe proporcionou alcançar o objetivo maior de seu aprimoramento vocacional: o curso de Enfermagem iniciado em 1958 e no qual se diplomou em 1960.

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III – O Frade

Durante muito tempo, sobretudo nos anos 1950/60, Frei Cosme cuidava, entre outras obrigações, do apostolado dos doentes. Visitava-os todas as quartas-feiras. Pela manhã, os internados em Hospitais e, à tarde, aqueles que se recuperavam nos próprios domicílios. Identificava-se profundamente com os sofrimentos dos enfermos, pois também era um deles.

O frade alemão do Convento do Valongo tinha saúde precária, mas nos períodos em que o corpo lhe permitia viver com mais leveza, encobria com um sorriso singelo, a doença latente que carregava.

Suportava com resignação, recorrentes crises de asma, de modo particular no período mais frio e úmido dos invernos santistas. Por vezes, as angustiantes dificuldades respiratórias o levavam ao paroxismo e, na sequência, à internação hospitalar, da qual sempre procurava fugir…

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IV – A Emergência na Clausura do Convento

Darlinda não lembra exatamente o ano, 1954 ou 55; nem se aconteceu após a missa ou a reza. Recorda sim que, ao final de uma dessas funções religiosas, em meio ao burburinho de vários grupos de fiéis, na saída da igreja, foi apontada pelas colegas Filhas de Maria, para ajudar em uma emergência que acontecia bem ao lado. Acreditavam ser ela a única pessoa qualificada disponível para, de imediato, ajudar Frei Cosme, atacado novamente, por uma de suas devastadoras crises asmáticas. Segundo as colegas, os chiados que vinham dos brônquios do frei enfermo, prenunciavam algo muito sério. Por outro lado, os confrades, cada vez mais aflitos, tentavam sem resultado, localizar o médico do convento ou quaisquer outros tipos de ajuda rápida.

Algo indecisa por breves instantes, Darlinda logo foi convencida pelo grupamento de Filhas de Maria a ir ver o frade a quem elas estimavam por demais.

Havia, porém, uma insólita questão a resolver: Frei Cosme, em estado agônico, achava-se em sua cela, em plena área de clausura. E nessa parte dos Conventos ou Mosteiros, era expressamente vedada a entrada de pessoas do sexo oposto (ao dos monges ou freiras), bem como de outras pessoas não consagradas.

Na época, o superior do centenário Convento de Santo Antônio do Valongo era Frei Osmar Dirks, considerado por muitos paroquianos, como um dos mais dinâmicos vigários, que por ali haviam passado. O decidido frade logo resolveu o curto impasse. No exercício da autoridade concedida pelas regras da Igreja, subiu, sempre ao lado de Darlinda, até o quarto do sacerdote enfermo. Durante o trajeto aproveitou para passar-lhe as informações cabíveis naquelas circunstâncias.

Dentro do acanhado cômodo, a ainda atendente de enfermagem, avaliou o estado do angustiado paciente constatando, com certo alívio, a existência de um tubo de oxigênio, perto da cama, junto a uma mesinha com remédios e papéis. Ato contínuo, conseguiu falar com o médico, por telefone, recebendo dele todas as informações mais urgentes para aquela pouco usual emergência médica.

Em instantes, Frei Cosme já estava de máscara de oxigênio e com a injeção receitada começando a surtir efeito.

Crise administrada, Darlinda sempre acompanhada por Frei Osmar, voltou para junto das colegas que ainda esperavam, cheias de curiosidade, para saber como eram os detalhes da tão famosa quanto misteriosa e indevassável clausura.

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V – As Fraquezas do Anjo Bom

O episódio da emergência na clausura serviu para aproximar, ainda mais, a futura enfermeira e o frade franciscano. A partir daquele encontro, todas as vezes que Frei Cosme queria fugir das temidas internações, pedia para que a Darlinda o medicasse ou então lhe aplicasse as rotineiras injeções. Nem sempre dava certo, mas foram anos de carinhosas atenções mútuas. No balanço final, a convivência próxima com o Anjo Bom do Valongo, foi muito enriquecedora para ela.

Nesta altura do depoimento, Darlinda faz uma inflexão e, na contramão da quase totalidade dos Amigos de Frei Cosme, revela alguns discretos contrapontos ao rol das conhecidas virtudes do cultuado sacerdote. A intimidade, compartilhada em momentos extremos, lhe permitira captar, como ao lado dos exemplos mais edificantes do frei, também coexistiam algumas fragilidades, inerentes ao ser humano.

Frei Cosme também tinha seu calcanhar de Aquiles e ela lembra dois exemplos.

O primeiro apareceu, depois de longas observações, quando Darlinda descobriu a possibilidade de uma forte correlação entre as crises de asma apresentadas por seu paciente, aliadas à ingestão de mamão. O frei que, por seu lado, também já tinha percebido isso, singelamente confessou que o prazer de saborear a deliciosa fruta brasileira, suplantava os dissabores deflagrados pelos elementos potencialmente alérgenos contidos na mesma. Ressalte-se aqui, que este não era o único deslize alimentar do robusto monge alemão. Variados testemunhos de Amigos, confrades inclusive, registraram ter sido ele um habitual degustador de queijos e bolos…, entre outras guloseimas.

O segundo exemplo, um pouco mais controverso, citado pela enfermeira, refere-se ao comportamento irritadiço do frei, nos instantes cruciais que prenunciavam as crises asmáticas. Nesses momentos, segundo Darlinda, ele ficava angustiado, nervoso, aflito, algo desequilibrado, irreconhecível. Tal contraste de comportamento era chocante, mesmo para a íntima amiga que o medicava, pois em condições normais as virtudes mais perceptíveis eram sua calma, mansidão, paciência, bondade…

A despeito disso, como bem atestado pelas memórias da amiga Darlinda, o carisma que prevaleceu sobre os pecadilhos circunstanciais, inerentes à fragilidade humana, foi o do religioso exemplar, sempre buscando o aperfeiçoamento, através das suas árduas e infindáveis práticas santificadoras.

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Darlinda Ferrari Venâncio

Darlinda Ferrari Venâncio

Amiga n.º 20 de Frei Cosme

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